Razões para nem começar a usar o Scientific Linux
Hi guys,
Esse texto é uma carta aberta ao Henrique LonelySpooky a respeito do CentOS, distribuição que utilizo em meu desktop e meus servidores. Não é segredo pra quase todos que eu também estou deixando o CentOS. E esse texto do LonelySpooky brifa explica por alto alguns motivos que também o levaram abandonar essa distribuição. Mas o Scientific Linux, no meu caso, não será uma resposta, e sim uma pergunta. A resposta será “Não”. E eu explico o por quê.
Onde eu discordo da Opinião do LonelySpooky
De 2009 para cá, pouca coisa mudou na realidade: o CentOS tem milhares de usuários, mas apenas “meia dúzia” de desenvolvedores que decidem tudo. Não existe, de fato, uma Comunidade CentOS porque a Comunidade não participa efetivamente na construção da distro. Detalhes como papel de parede, tema, publicidade e empacotamento se passam praticamente às escuras ou dispersos em páginas lúgubres e mal divulgadas.
Henrique, como bom usuário CentOS que és, você deveria lembrar que o desenvolvimento do CentOS realmente não é interativo via website ou fórum. No entanto a comunidade participa sim, através das listas de discussão onde todas essas coisas são debatidas. E nada disso é mal-divulgado, o problema é outro (explico mais pra frente).
Quando o Red Hat Enterprise Linux 6 foi lançado eu já acompanhava ávidamente as versões de teste e creio que muita gente, assim como eu, acreditava que um RHEL mais novo abriria um importante leque de possibilidades; afinal de contas, o RHEL 5.x é baseado no jurássico Fedora Core 6, com o qual diversas aplicações recentes são incompatíveis.
Na verdade, as incompatibilidades nesse aspecto só são dos pacotes pra desktop. Quem usa RHEL/CentOS 5 sabe que, apesar do kernel ainda ser o 2.6.18, ele é muito bem patcheado para assegurar a compatibilidade com o hardware mais recente. Empresas desenvolvem software para outras empresas. Logo, nos softwares que continuam sendo desenvolvidos para o RHEL 5, não faz diferença a última versão do kernel, do GCC ou da GLibc.
Em vez de uma solução, o RHEL 6 evidenciou um problema muito grave que a Comunidade CentOS enfrenta. A reduzida equipe de desenvolvedores encontrou-se espremida entre duas releases: RHEL 5.6 e RHEL 6.
Houve votação nas listas para eleição da prioridade. Inclusive, eu votei na prioridade de lançamento do CentOS 5.6 ao invés do CentOS 6, uma vez que precisarei homologar toda minha plataforma que hoje roda no CentOS 5.x para rodar no CentOS 6, enquanto o CentOS 5.6 é versão de continuidade, não de recomeço. 😉
Onde eu concordo com a opinião do LonelySpooky
De 2009 para cá, pouca coisa mudou na realidade: o CentOS tem milhares de usuários, mas apenas “meia dúzia” de desenvolvedores que decidem tudo. Não existe, de fato, uma Comunidade CentOS porque a Comunidade não participa efetivamente na construção da distro.
Eu concordo em parte com essa afirmação. Não acho que a equipe que desenvolve o CentOS é pequena, pelo contrário. Acho ela até abastada.
O que não gosto é que o desenvolvimento do CentOS me passa a impressão de ser feito “em panela”. Isso é, sempre as mesmas pessoas, e o ego das referidas é um tanto quanto exaltado. Isso não é uma exclusividade dos desenvolvedores do CentOS, mas sim um problema de TODAS AS DISTRIBUIÇÕES feitas em comunidade. No Debian é a mesma coisa, a diferença são as intermináveis votações.
Como atenuante, numa distribuição como o CentOS não são necessários tantos desenvolvedores, uma vez que o CentOS é basicamente um repackage do RHEL. As listas são abertas até certo ponto, e a burocracia para participar do desenvolvimento é tanta que eu optei por não distribuir os pacotes que eu já fiz nesses meios oficiais.
Diante da impaciência da comunidade, que por várias vezes solicitou mais transparência sobre o status do CentOS 6, a resposta padrão é sempre a mesma: “O CentOS 6 ficará pronto quando ficar pronto”
Isso, infelizmente, tem sido um problema seríssimo e dispensa comentários.
Razões para continuar no CentOS
Apesar disso tudo, o CentOS ainda tem um nome muito forte nos provedores da vida. Nome erguido por mérito. E existem pessoas que não estão inteiradas dos problemas que a comunidade CentOS está enfrentando. Pessoas essas cujos servidores continuarão funcionando e não tem interesse ou disponibilidade de ajudar na distribuição. Pessoas que não se importam em esperar e que não querem se envolver. Você é uma dessas pessoas? Ok, continue no seu CentOS. Admito que em muitos lugares também vou continuar.
Razões para não continuar no CentOS
Desde o lançamento oficial do RHEL 6, o desfile dos egos nas listas do CentOS tem se tornado extremamente desagradável. Me lembro da “data de lançamento” já ter sido marcada e descumprida umas quatro vezes. E ao invés de todos arregaçarem as mãozinhas e empacotar, o development team parece estar mais preocupado em discutir o sexo dos anjos nas listas da distribuição. Muitos questionam a entrega do CentOS 5.6 e 6, sugerem fusão entre o Scientific Linux e o CentOS ou uma colaboração mútua, oferecem ajuda, mas tudo vira motivo para a trollagem fluir. E o tempo passa. E nada do CentOS 5.6 e 6…
Minha história com o Scientific Linux
O Scientific Linux também é um clone do Red Hat Enterprise Linux com bastante qualidade. Assim como o CentOS, ele não é exatamente igual ao RHEL (se você, usuário CentOS, diz que o RHEL é idêntico ao CentOS, certamente você nunca usou o RHEL). Utilizei-o na versão 5.3 quando tirei o Fedora do meu desktop. Desde o momento que o instalei, reparei que o Scientific Linux é mais organizado que o CentOS, tem mais pacotes e tinha opção de usar XFS na / (que o RHEL só adicionou na versão 6!). A arte era mais feia – beeem mais feia – que a do CentOS, na minha opinião, mas troquei o papel de parede minutos depois.
Apesar de todas essas qualidades, percebi que a comunidade do Scientific Linux não levava as atualizações do sistema muito a sério, e algumas falhas que eram corrigidas bem em em tempo no CentOS acabavam demorando muitos dias mais para serem corrigidas no Scientific Linux. No ato da instalação, quando o fiz, a versão 5.3 havia acabado de ser lançada, e o CentOS 5.3 já estava em meia vida, com o RHEL 5.4 quase pronto. Isso me jogou um balde de água fria, e quando o CentOS 5.4 foi lançado, alguns meses depois, chutei o Scientific Linux 5.3 e voltei para o CentOS.
Essa demora extra no ciclo do Scientific Linux eu continuei acompanhando e confirmei nos releases seguintes. No entanto, o que parecia impossível, aconteceu com o CentOS. E nesses últimos dois releases, até o CERN/Fermilab (que também demoraram para lançar o Scientific Linux 6) conseguiram ser mais rápidos que o CentOS.
Mas, cansado da espera pelo novo CentOS 6, cogitei novamente a minha volta para o Scientific Linux.
A continuidade em outro clone do Red Hat Enterprise
Quando eu estava quase concretizando a instalação do Scientific Linux, li essa thread no LinkedIn onde outros usuários de CentOS reclamam da mesma questão que eu: Guerra de egos na disponibilização das versões, incógnita de tempo, demora exagerada e etc. E nessa mesma thread descobri o PUIAS Linux, outro clone do Red Hat mais antigo que o CentOS e mais fiel ao Red Hat original.
O PUIAS é desenvolvido pela universidade de Princeton, e desde que tenho o utilizado, o descobri como uma distribuição mais madura que o CentOS apesar de menor, que distribui rapidamente as atualizações do sistema operacional, e que ficou pronta bem antes do Scientific Linux 6.
O PUIAS não tem mídia de instalação (o usuário precisa cria-la se quiser instalar), ou realizar a instalação por rede como é meu costume. O fato de também ser desenvolvido por uma univerisade, que acima de tudo possui COMPROMISSO, me garantiu mais firmeza para experimentar, e estou a poucos passos de migrar meu desktop para o PUIAS 6. Basicamente só falta eu terminar de empacotar o KDE, cujo mesmo procedimento eu também precisei realizar no RHEL 6 e Oracle Unbreakable Linux 6.
Conclusões
Você está aguardando o CentOS 6 ou um bom clone do Red Hat Enterprise Linux 6? Se a resposta for a segunda alternativa, experimente o PUIAS, você não tem mais nada a perder mesmo…
Atenciosamente,
Lucas Timm.