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Dois anos.

21 de maio de 2009 7 comentários

(Esse post foi escrito antes, no dia 11 de maio de 2009).

Hoje vi uma cena que me bateu forte. Ardeu como uma faca entrando dentro do peito, rasgando o que ainda existe daquilo que costumo chamar de coração. Num momento que eu não esperava, de uma cena que eu deveria tentar me acostumar a encarar, mas não consigo;

Vi de longe uma família chegando, e no semblante de todos, um senhor de idade com aproximadamente 1,80 de altura. Este vestia bermuda, chinelos e uma camiseta cavada. Caminhando ao seu lado, um menino de aproximadamente 7 anos, vestido da mesma maneira, com um casal caminhando na frente dos mesmos. O garoto com a mão esticada, quase sem alcançar, segurava a mão do senhor idoso.

O tempo passa muito rápido. Ele conforta, mas também é frio e cruel. Eu já fui aquele garoto. E isso me fez sentir uma imensa saudade de ti. De quando andávamos juntos, mundo afora, assim que tínhamos oportunidade pra isso ou mesmo não. Tu faz muita falta, avô querido. De tudo o que fizestes por mim, do que me ensinaste, da minha (má) educação e de todas as nossas andanças.

Toda a fumaça de caminhão que respirávamos, da imundícia da maioria dos lugares por onde passávamos, nossos pés embarrados, roupas sujas, muita estrada, muita terra. Muito frio, muito calor. Soja, açúcar, arroz e bobina de aço. Tantas frases apenas nossas, que só nós dois conhecíamos o significado! “Sou cosipano”! Choro a cada vez que me lembro daquele seu rosto de safado, de menino que não teve infância, mais moleque do que eu. Nunca estava de mal-humor, exceto quando os teus problemas de saúde começaram.

E me corrói lembrar o quanto errei contigo. O quanto fui imaturo desde que sua saúde foi abalada por aquele trágico AVC. Que eu não fiz nada por ti, e que fui o pior neto do mundo por não perceber a complexidade de toda aquela situação. Parecia que eu havia esquecido todas as toneladas que carregamos e os milhares de kilômetros que andamos juntos. Não me perdôo por ter errado de tamanha maneira. Mas, sei também, que o seu descanso em nosso Deus me ofereceu uma nova chance de redenção, da qual eu me afastava a cada dia que passava desde todo ocorrido.

Como estaríamos hoje? Sei que tu me ajudaria com todos os meus problemas atuais. Não teria passado nem perto da maioria de todos os erros que cometi. Tu jamais me deixava desistir, e não aceitava que eu errasse, nem que pra isso preciassse me ensinar duzentas mil vezes! Minha perna roxa daqueles “tapinhas”, oriundos daquela enorme mão de mecânico/caminhoneiro, depois de meia hora errando ao tentar arrancar o velho Mille ELX na subida era prova disso!

Queria muito poder, hoje, estar dirigindo aquele velho jacaré 77, com graneleira 3 eixos e cuja placa ainda lembro de cor. Contigo, dessa vez já ao meu lado, onde pudéssemos parar numa boa sombra, esticar nossas duas redes (a tua sempre será a maior) descansando um pouco da cabine do caminhão. Como é bom sonhar!

Sei que vamos nos encontrar novamente, como sei que a hora está cada vez mais próxima. Nesse dia você saberá dessa mensagem, e de cada pensamento minúsculo que passou pela minha cabeça durante o tempo que estamos afastados. Nesse momento, já não importará mais nada. Venceremos no final. Assim, até lá, eu pensarei em ti por todos os dias. As justificativas ou desculpas já não serão mais necessárias. Tudo terá acabado. Tu já venceu o mundo, lutou demais e agora descansa. Só falta eu.

Continuarei tentando fazer o meu melhor, para que possamos de fato nos reencontrar. Preciso te dar um abraço, com nossos corpos já livres de toda imperfeição e pecado. E aí sim, seremos felizes novamente, servindo ao nosso Deus, sem mais pranto, guerra nem dor. Te amarei pra todo o sempre.

Lucas Timm.

(Em memória de Rubem Timm)

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